Gerações diferentes convivem em harmonia em Ilhabela
Atualizado em 10/07/2019 - 16:33
Contraste de gerações nos Jogos Regionais
Enzo e Thalita representam o futuro do esporte de São José e aproveitam a convivência com os veteranos para ganhar experiência - Foto: PMSJC

Wagner Matheus
Secretaria de Esporte e Qualidade de Vida

Os Jogos Regionais proporcionam competições acirradas entre equipes das 40 cidades participantes, servem para aperfeiçoar atletas ainda menos experientes para competições de maior destaque, mas também cumprem outra função importante: servem para integrar seres humanos de idades tão diferentes que poderiam ser bisavôs com seus bisnetos.

O convívio entre diferentes gerações é uma realidade no alojamento de São José dos Campos em Ilhabela, onde estão sendo disputados os 63º Jogos Regionais. Tudo na maior harmonia e com o maior respeito.

Mais velho

O português de nascimento – e joseense de coração – João Fernandes Azevedo [foto abaixo], do alto de seus 77 anos, é o atleta mais velho da delegação. Porém, quem o vê interagindo com pessoas de todas as idades, nem pensa nesse detalhe.

Seu João, como é chamado por todos, joga bocha desde 1977, quando veio de São Paulo para São José dos Campos e, devido à grande amizade que tinha com o então presidente do Clube Luso-Brasileiro, Fernando Costa, passou a ocupar a vice-presidência da entidade.

“Comecei a acompanhar as pessoas jogando bocha e acabei me interessando pelo esporte. Passei a praticar, entrei na equipe e chegamos a ser tetracampeões estaduais”, conta. Tudo estava perfeito até que a equipe do Luso foi desativada. Foi quando a Savema – Sociedade Amigos do Jardim Maringá e Vila Ema –, na região central da cidade, surgiu como opção.

A maioria dos jogadores do Luso decidiu transferir-se e até hoje este é o clube pelo qual João disputa as competições. Também na Savema ele obteve sucesso, tanto que em 2017 foi campeão da cidade.

Motivação

Quem acha que a idade e os quase 40 anos competindo diminuem sua motivação, está enganado. “Ficar fora de casa é chato, dá saudades da esposa, mas a bocha me dá prazer, é muito bom encontrar os amigos que a gente faz nesse esporte”, afirma. “Tenho amigos no Estado de São Paulo inteiro, o que mostra que a frase que define a bocha – ‘o esporte de fazer amigos’ – é muito verdadeira.”

Quanto ao contato que os Jogos Regionais e Jogos Abertos proporcionam com várias gerações de atletas, João Fernandes é categórico: “Aqui só tem gente boa, tenho amizade com gente de todas as idades e posso dizer que o grupo deste ano foi um dos melhores com que já convivi”.

Bem tratado por todos, ele recebe um carinho especial do staff do alojamento. “As meninas da Prefeitura são muito simpáticas, procuram me deixar muito à vontade”, garante.

Exemplo disso foi o fato ocorrido no domingo (7). João é bastante religioso, chegando a frequentar missa quase todos os dias em São José. Ele bem que tentou chamar um táxi para ir à igreja em Ilhabela, mas o pessoal do alojamento fez questão de levá-lo à missa e buscá-lo depois.

Jogos Abertos

Veterano de jogos Regionais e Abertos desde 1992, o atleta bem que sabia que a final diante de Caieiras, disputada na segunda-feira, seria bastante difícil. E assim foi. Caieiras venceu por 2 a 0 e São José ficou com o vice-campeonato. Porém, a boa notícia é que essa posição classifica a bocha de São José para a disputa dos Jogos Abertos em novembro próximo, em Marília.

Com certeza, lá estará João Fernandes, com a sua educação, a sua diplomacia, a sua amizade com todos. “Para mim, é uma honra disputar essas competições, todos querem vencer os Regionais para chegar aos Abertos”, afirma. “É por isso que os Jogos Abertos são conhecidos como a olimpíada do esporte caipira.”

João Fernandes não pensa em parar. Homem de grupo, como ele mesmo se define, dá sua contribuição para a equipe, inclusive puxando as orações coletivas. Até quando? “Só paro quando não me sentir mais útil”, diz o atleta mais velho de São José nos Jogos Regionais.

Caçulinha

Do lado oposto ao de João Fernandes e os experientes atletas da bocha, estão duas crianças que vieram integrando a delegação da ginástica artística de São José para ganhar experiência. Enzo, 9 anos, e Thalita, 10, estão certamente entre os atletas mais jovens de todos os cerca de 6 mil que disputam os Jogos de Ilhabela e São Sebastião.

Miúdo, tímido, mas muito atento por trás dos óculos que o deixam com ar de intelectual, Enzo Kalan Pereira Fernandes, não sabe dizer há quanto tempo pratica ginástica. “Cerca de um ano e meio”, cochicha um dos treinadores da equipe.

O menino começou no esporte, segundo ele conta, graças a uma amiga de sua mãe, que fez força para isso. Mesmo assim, o início não foi fácil. “Ficava com medo de me machucar, mas aos poucos fui conhecendo os aparelhos e perdi o medo”, conta.

Hoje, Enzo já executa exercícios em todos os aparelhos – argolas, cavalo e barras paralelas – mas tem o seu ponto forte nos exercícios de solo.
Porém, seu ídolo no esporte é o campeão olímpico e mundial Arthur Zanetti, especialista nas argolas.

Morador do Conjunto Emha, na região sul, o menino treina no Centro Esportivo Jardim Morumbi. Sobre o futuro, ele não tem dúvidas: quer se dedicar 100% ao esporte. “Vou ser atleta profissional”, garante o caçulinha da delegação.

'Treinadora'

Colega de Enzo, Thalita Ferraz Prado tem um ano a mais que ele e também treina três vezes por semana no Jardim Morumbi. A menina veio aos Jogos para se ambientar e treinar, principalmente no seu aparelho principal, as barras paralelas.

“Fiquei muito feliz em vir aos meus primeiros Jogos Regionais porque o meu objetivo é chegar à Seleção Brasileira”, revela Thalita, com expressão de felicidade que pode ser vista nos seus olhos vivos e no sorriso permanente.

Mas, diferentemente do colega Enzo, ela quer dividir o esporte com outra profissão. “Quero ser veterinária”, explica, dizendo que frequenta o 5º ano do ensino fundamental e que tira boas notas.

A maior incentivadora de Thalita, segundo a menina, é a avó dona Selma. “Ela sempre me fala parabéns”, afirma, orgulhosa. Mas existe um outro “público” que merece a atenção da pequena ginasta. São as quatro irmãs, uma maior e as outras menores, de quem ela procura ser “treinadora”. “Eu sempre mostro para elas como eu treino e elas gostam. Acho que elas vão ser ginastas também”, prevê.

Enzo e Thalita poderiam ser netos – ou até bisnetos – de João Fernandes. No entanto, os três convivem no alojamento em condição de igualdade. São atletas que lutam por vitórias para São José dos Campos. Formam parte do grupo de 542 esportistas da maior delegação dos Jogos Regionais. Tudo dentro de um clima de harmonia, amizade e respeito, exatamente como ensina o esporte para os seus praticantes.


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