São Francisco Xavier recebe estudo de primatas
Atualizado em 07/10/2021 - 10:13
Estudos e ações de conservação dos primatas em São Francisco Xavier. Foto: Claudio Vieira/PMSJC 15-09-2021
Distrito de São Francisco Xavier é um dos poucos locais da Serra da Mantiqueira que conta com cinco espécies de primatas - Foto: Claudio Vieira/PMSJC

Gisele Lopes
Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade

Os trabalhos em campo começam cedinho. Pesquisadores e guias locais de São Francisco Xavier, com olhos atentos à mata, observam qualquer movimento que possa apontar a presença dos primatas.

No meio do caminho, árvores catalogadas com data e horário oferecem informações importantes. A trilha segue rica de conhecimentos e dados que serão inseridos em uma planilha.

“A pesquisa nasceu do coração da comunidade. O principal objetivo é fazer um censo da população de primatas de São Francisco Xavier. A gente caminha pelas trilhas de preservação ambiental, avista os primatas e faz anotações da data, hora, quantos indivíduos a gente avistou, o que eles estão se alimentando e compila em uma planilha de dados”, explicou o pesquisador Paulo Rodrigo Dias.

A ação conjunta da Prefeitura São José dos Campos, em parceria com o ICMBio, Muriqui Instituto de Biodiversidade e Fundação florestal, com apoio da comunidade e Associação Regenera SFX, conta com a coordenação científica de Karen Strier, professora doutora da Universidade Wisconsin-Madison, presidente da Sociedade Internacional de Primatologia e do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB), e Fabiano Melo, professor doutor da Universidade Federal de Viçosa e do MIB.

“São Francisco Xavier é um dos locais mais importantes para pesquisas com os primatas. Acredito que vamos achar coisas valiosas sobre ecologia e comportamento dos muriquis e outros primatas. Com essas informações vamos avançar nossos conhecimentos científicos com novas ferramentas para conservação”, disse Karen.

O distrito de São Francisco Xavier é um dos poucos locais da Serra da Mantiqueira que conta com cinco espécies de primatas: muriquis-do-sul, bugios, macacos-prego, sauás e saguis-da-serra-escuros.

O muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), espécie-símbolo do distrito, é, junto com o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas. A espécie entrou em 2019 na categoria de "criticamente ameaçada de extinção", segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.

Fabiano Melo classifica a pesquisa como grande aliada na preservação das espécies.

“A prefeitura nos convidou e motivou para começar os estudos com os primatas e junto com a comunidade proteger essa riqueza. São Francisco Xavier é uma das poucas localidades do Brasil que tem esse privilégio. Por isso, consideramos essa atividade de suma importância”, disse Melo.

Emoção e aprendizado

“Essa aqui é uma é a figueira mata-pau, também conhecida como gameleira ou figueira branca. Ela costuma nascer sobre uma outra árvore, que acaba matando sufocada”, explicou o guia de montanha Donny França, durante a trilha de observação dos primatas.

Em outro trecho, mais uma pausa. Dessa vez, para explicar uma espécie de mancha no tom avermelhado ou rosa no tronco de uma árvore. “Esse tipo de fungo aponta que estamos em um ambiente com ar puro. Os liquens não causam nenhum dano para a planta”, contou Donny.

Bom sinal: na trilha em busca dos muriquis, encontra-se bastante árvores com liquens vermelhos ou rosas.

Expedição encerrada e os muriquis não quiseram dar o ar da graça. Orgulhosos, os pesquisadores e o guia de turismo exibiram vários registros dos muriquis nos trabalhos em campo. Pausa para mais uma contemplação e com os olhinhos brilhando, a pesquisadora Letícia Almeida Moura relatou uma das experiências mais emocionantes durante a observação.

“Eu sou apaixonada pelos muriquis. Os macacos estavam ali nos galhos. Tinha uma fêmea. O filhotinho vocalizou para ela. O bando estava seguindo, ela sinalizou para o bando, o bando parou e ela voltou para buscar o filhote. Esse comportamento foi incrível, eu sou apaixonada”, concluiu Letícia.

Imagens registrada pelos pesquisadores durante trabalho em campo

 

  

 


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